Você pode ficar em casa e ser feliz introspectivo ou pode fazer uma escolha, sair e ser a borboleta que começa a tempestade que muda o mundo.
John Sanford
Nos últimos anos, sinais contundentes vinham indicando que uma profunda crise ambiental,
social e econômica, de proporções globais, fermentava à luz da inoperância de lideranças mundiais
e da “distração conveniente” de quase todos os setores da sociedade. Fizemos ouvidos de
mercador…. Foi necessária a declaração de guerra de um inimigo invisível e silencioso, o COVID-19,
para nos tirar de uma longa letargia e deixar a descoberto a vulnerabilidade dos princípios que
escolhemos para conviver neste planeta.
A poesia de Milton Nascimento, “Sei que nada será como antes…” (1976), é oportuna. Nada,
nada será como antes. Resta saber se faremos o necessário para que seja muito melhor! Neste
momento, é compreensível que a grande maioria esteja ocupada em buscar soluções para lidar com
os impactos desta pandemia e as alterações que ela traz a reboque. Entretanto, é indispensável
estarmos conscientes das transformações que poderemos promover, individual e coletivamente,
assim que a quarentena terminar.
Frente à nova realidade que nos rodeia, como podemos reconfigurar nosso ambiente interno
onde tudo tem início? Que conceitos, narrativas, crenças, ideias inéditas devemos fomentar para nos
tornarmos agentes na construção de novos modelos de negocio, novas formas de gerar renda, novas
formas de cooperar e compartilhar, abrindo espaço para um estilo de vida coletivo mais sustentável?
O que descartar, em caráter imediato, para sair do papel de paciente ou vítima e assumir a
responsabilidade que nos cabe?
Um mundo diferente paira no oceano de possibilidades da mente e do coração da raça
humana e aguarda construtores para se materializar. Fica aqui um convite à reflexão. O que vai
significar prosperar a partir de agora? Ter sucesso? Riqueza? Felicidade? Solidariedade? Como
redefinir o conceito da palavra trabalho?
É possível estabelecer outros valores, além do monetário, para fazer circular recursos?
É imperativo otimizar recursos. A otimização é o primeiro passo para a preservação dos
ecossistemas naturais, a alma da nossa generosa Mãe Terra. O compartilhamento gera valor, gera
conexão, ao mesmo tempo em que reduz o impacto ambiental, propondo uma mudança de 360º na
cultura de consumo e de identidade relacionada ao status social.
Nosso estilo de vida se estabeleceu em cadeias que exploram e deterioram diferentes
ecossistemas. Reconhecendo nossa natureza relacional e interdependente precisamos criar
modelos de produção que promovam o benefício coletivo e minimizem o impacto nocivo sobre este
imenso entrelaçado biológico do qual depende toda a vida na Terra. Quando nossas portas voltarem
a se abrir, haverá espaço de sobra para criar, para contribuir, para cooperar. Qual a sua proposta?
De que maneira você pode contribuir? Que projeto merece sua colaboração?
Neste mundo hiperconectado, temos a oportunidade de obter mais e melhores resultados de
forma dinâmica e menos burocrática. Como? Criando sinergia com parceiros estratégicos,
convergindo para um objetivo em comum e atuando em rede. Essa é apenas uma das fórmulas
possíveis, que dá prevalência à sabedoria coletiva e destaca a diversidade. É um caminho viável
para desenharmos um modelo inédito de organizar nossa economia, nossa família, nossos sistemas
sociais e corporativos.
O modelo humano materialista e autocêntrico deu sinais de falência e de nada adianta
taparmos os olhos com as mãos, crendo que, assim, ficaremos protegidos de todo o mal. A infância
e a adolescência da Humanidade ficaram para trás. O século XXI anuncia nossa estreia como
adultos e, como tal, devemos nos apropriar – sem medo e em igual medida – do nosso imenso poder
e da nossa imensa responsabilidade.
Sabemos que transformações não acontecem do dia para a noite, por isso, quanto antes nos
dispusermos a arregaçar as mangas e aceitar o desafio, antes faremos a colheita de dias melhores.
A sociedade do futuro pertence a seres livres, íntegros, autênticos e comprometidos com o bem-estar
planetário. E enquanto a Terra e nós nos regeneramos, novas lideranças e novas empresas já
começam a desenhar esse novo ambiente de convivência e desenvolvimento que, ainda
timidamente, floresce fértil de oportunidades ao nosso redor.
Se quiser conhecer 50 empreendedores sociais que saíram na frente e apontam sua bússola
para o futuro, visitem (inglês): https://growensemble.com/social-entrepreneurs/
Até aqui, a civilização humana pode ser narrada numa sequência periódica de picos e vales.
Daqui para frente, essa “linearidade” pertencerá apenas a registros históricos, entramos na era
exponencial e estamos sendo impelidos a saltar o abismo entre os antigos paradigmas e o Grande
Novo que se abre diante de nós.
Defendo que a premissa básica desse Grande Novo é que a espécie humana, com seu poder
transformador e criativo, deve utilizar suas valências de forma mais fraterna, íntegra e construtiva,
seja na forma como se relaciona com seus semelhantes, com demais seres sencientes ou com o
planeta que nos abriga. É chegada a hora de transcender a visão reducionista a que nos habituamos
e ampliar nosso olhar para uma perspectiva mais holística, mais sistêmica, já que essa será condição
sine qua non para navegar com sucesso no Grande Novo.
Estamos em meio a um grande desafio civilizatório, representado por um tipo de vácuo global,
onde o mundo antigo deixou de existir e o novo ainda está por ser construído. Certamente, muitos
de nós experimentarão um período de vazio, de sombra e impotência. Contudo, historicamente, após
grandes crises enfrentadas pela Humanidade, um novo período de luz e crescimento teve lugar.
Hoje, com todo o conhecimento e experiência que adquirimos, temos condições de emergir
deste hiato de incertezas preparados para edificar tempos promissores. Lembremos que sempre que
a ciência e a tecnologia encontram pessoas de consciência elevada, o mundo inaugura um novo
patamar em sua jornada evolutiva.
Obviamente, o Grande Novo não traz no bolso respostas prontas. Ainda bem, ou haveria do
que desconfiar! Entretanto, talvez o primeiro movimento seja admitir que permanecer onde estamos
não é mais uma opção, devemos nos desapegar do passado e girar nossas antenas para o futuro.
O segundo, expandir nossa consciência para criar o mundo que irá traduzir nossos ideais mais
elevados. Finalmente, e não menos importante, o terceiro movimento seja adotar uma atitude de
auto-responsabilidade e confiança.
Cabe a nós a tarefa de passar o mundo a limpo, assim como cabe a nós ressignificar nossa
presença neste planeta maravilhoso e vislumbrar o futuro com esperança.